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Minerais orgânicos: ferramenta para nutrição de tilápias com maior precisão

Minerais orgânicos: ferramenta para nutrição de tilápias

À medida que a produção de tilápias aumentou a partir da década de 1990, com grande aceleração na produção nos últimos 10 anos no Brasil, intensificou-se a busca por fontes alternativas de proteína para reduzir o custo de formulação e produção de tilápias. Atualmente, o farelo de soja é a fonte proteica de origem vegetal mais utilizada na formulação de rações para tilápias. No entanto, a soja possui diversos fatores antinutricionais, com destaque para o ácido fítico, que interferem negativamente na utilização de minerais. Esse antagonismo é ainda maior para aqueles microminerais com carga positiva - como o zinco, ferro, cobre e manganês, importantes para o desempenho e saúde dos peixes. Outros alimentos de origem vegetal com níveis elevados de ácido fítico são utilizados na formulação, como o farelo de trigo.

Diante da grande possibilidade de interações entre os minerais, aminoácidos, vitaminas, enzimas e compostos antioxidantes, geram-se incertezas sobre a concentração de minerais da ração verdadeiramente disponível para absorção. Os minerais de fontes inorgânicas foram e ainda continuam sendo utilizados em grande escala em rações para tilápias. No entanto, quando se deseja aproximar do conceito de nutrição de precisão é fundamental conhecer a biodisponibilidade dos minerais ofertados aos peixes.

A baixa disponibilidade dietética, além de influenciar o desempenho e saúde dos peixes, também impacta o ambiente. É crescente a preocupação com a excreção de minerais não absorvidos pelos peixes no ambiente e seus impactos na qualidade da água, principalmente o fósforo. Outros minerais, como o zinco, manganês e cobre, também devem ser considerados sob o ponto de vista de sustentabilidade.

Neste artigo, apresentaremos a importância da utilização de minerais proteinatos e levedura enriquecida com selênio para maior precisão no atendimento das exigências dietéticas dos peixes, assim como as vantagens sobre a rentabilidade associada à melhora dos índices zootécnicos e para uma aquicultura mais sustentável (Figura 1).

 

Linha do tempo

Descrição gerada automaticamente

Figura 1. Temáticas a serem abordadas no artigo.

 

O desejo por uma produção aquícola mais sustentável impulsiona mudanças na nutrição dos peixes

O consumo de peixes e frutos do mar apresentou um impressionante aumento de mais de cinco vezes nos últimos 60 anos, segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations). O órgão também estima que a produção em 2030 chegue a 200 milhões de toneladas a nível mundial (com a produção majoritária via aquicultura) e que a aquicultura brasileira apresente um aumento de cerca de 19% até 2030, em comparação a 2020.

Neste cenário de crescente expansão, somam-se os esforços mundiais para atingir o 14º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável: Vida na Água. Desse modo, a pressão internacional para exportação de tilápias criadas seguindo os princípios de sustentabilidade será cada vez maior nos próximos anos – exigindo a busca por soluções para conseguir uma aquicultura lucrativa com interação harmônica a longo prazo com o ecossistema e as comunidades locais. Como alternativa, os minerais Bioplex® e Sel-PlexTM foram elaborados com biotecnologias para otimizar a precisão na formulação de rações, contribuindo para uma piscicultura lucrativa e mais sustentável. 

 

Nem todo mineral orgânico é igual

Minerais orgânicos são reconhecidos globalmente como uma fonte mineral mais biodisponível do que seus homólogos inorgânicos. Existem muitas fórmulas de produção deste composto no mercado, genericamente denominadas “minerais orgânicos” por estarem associados a alguma molécula dita orgânica para se tornarem biologicamente estáveis. O processo de complexar ou quelatar elementos como cobre, ferro ou zinco costuma envolver a reação de sais minerais inorgânicos com um grupo de ligação adequado, como peptídeos ou aminoácidos, e os resultados dos diferentes processos influenciam na capacidade de manutenção dessa ligação.

A estabilidade dos minerais orgânicos é importante devido à grande variação de pH ao longo do trato gastrointestinal. Complexos ou quelatos com baixa estabilidade são passíveis de dissociação do complexo frente às forças fisiológicas, retornando então à estrutura inorgânica antes da ingesta chegar aos locais de absorção no intestino. Nesse caso, o mineral estaria sujeito à interação com ácido fítico ou precipitação após formação de hidróxidos. 

A plataforma de Gestão de Minerais Alltech® disponibiliza tecnologias já validadas e globalmente consolidadas na nutrição de animais de produção.

Explorando diferentes taxas de inclusão

Com o objetivo de demonstrar as diferenças práticas entre as fontes de microminerais – inorgânicos e proteinatos – na produção de tilápias, a Universidade Estadual de Ponta Grossa conduziu um estudo no qual diferentes doses dos microminerais foram avaliadas em tilápias.

340 tilápias, com aproximadamente 5 gramas de peso corporal inicial, foram utilizadas e distribuídas em quatro tratamentos:

  1. 100% das exigências dietéticas de zinco, manganês, cobre, ferro e selênio de origem inorgânica (sulfatos);
  2. 100% das exigências dietéticas de zinco, manganês, cobre, ferro na forma de proteinatos (Bioplex) e selênio na forma de levedura enriquecida (Sel-Plex);
  3. 70% das exigências dietéticas de zinco, manganês, cobre, ferro na forma de proteinatos (Bioplex) e selênio na forma de levedura enriquecida (Sel-Plex);
  4. 40% das exigências dietéticas de zinco, manganês, cobre, ferro na forma de proteinatos (Bioplex) e selênio na forma de levedura enriquecida (Sel-Plex).

Para isso, uma mesma formulação foi desenvolvida para conter 32,0% de proteína bruta, 3.300 kcal/kg de energia digestível e atender os níveis de inclusão praticados em rações comerciais para tilápias no Brasil. Após extrusão, as rações foram fornecidas aos peixes dos respectivos tratamentos durante oito semanas. Os peixes foram alimentados manualmente, até saciedade aparente visual, oito vezes por dia, durante 8 semanas.

Como principais resultados, um elevado ganho de peso dos peixes foi observado: 2.100% acima do peso inicial durante o período de alimentação. Isso resultou em uma conversão alimentar próxima de 0,8:1 em peixes de todos os tratamentos (Figura 2).

Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente

Figura 2. Ganho de peso (a) e conversão alimentar de juvenis de tilápias do Nilo alimentados com dietas experimentais com zinco, manganês, cobre, ferro e selênio de fontes inorgânicas para atender as exigências dietéticas (MTI) e dietas com 100% (MTO100), 70% (MTO70) e 40% (MTO40) dos níveis suplementados na dieta MTI por minerais proteinatos e levedura enriquecida com selênio.

Um grande resultado verificado neste trabalho foi a redução de dois minerais nas fezes: zinco e cobre, considerados os principais poluentes encontrados em ambientes de criação de peixes (Figura 3).

Gráfico, Gráfico de barras, Gráfico de caixa estreita

Descrição gerada automaticamente

Figura 3. Concentração de zinco e cobre nas fezes (mg/kg fezes; base na matéria seca) de juvenis de tilápias do Nilo alimentados com dietas com zinco, manganês, cobre, ferro e selênio de fontes inorgânicas (MTI) e dietas com 100% (MTO100), 70% (MTO70) e 40% (MTO40) dos níveis suplementados na dieta MTI por minerais proteinatos e levedura enriquecida com selênio.

Assim, ficou demonstrado que os minerais proteinatos e levedura enriquecida com selênio são importantes ferramentas nutricionais para uma aquicultura de precisão. Os resultados obtidos na pesquisa podem ser utilizados para otimizar o desempenho zootécnico, iniciando uma discussão sobre sustentabilidade. Estas aplicações contribuem para a comercialização do pescado no mercado internacional e para a longevidade da aquicultura brasileira.

Como nota adicional, observamos que a suplementação de levedura enriquecida com selênio contribuiu para a maior deposição de selênio do filé, em comparação aos peixes que receberam a ração com minerais inorgânicos. Neste sentido, as discussões advindas destes resultados superam a questão de biodisponibilidade, trazendo à pauta os benefícios do selênio para um maior tempo de prateleira do pescado e para a saúde do consumidor.

 

Considerações finais

Os minerais proteinatos Bioplex e a levedura enriquecida com selênio Sel-Plex contribuem para uma piscicultura de precisão através do atendimento das exigências dietéticas de microminerais de forma lucrativa.  Além disso, essa linha de pesquisa sobre o uso de minerais na forma de proteinatos demonstrou uma redução dos minerais excretados pelos peixes, contribuindo para uma aquicultura mais sustentável. Por fim, o uso da levedura enriquecida com selênio também se mostrou promissor para enriquecimento nutricional de filé.

 

Autores:

  • Wilson Massamitu Furuya, Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR, Brasil.
  • Carolina Vasconcelos, Gerente de Vendas, Alltech, Maringá, PR, Brasil.

 

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