Disbiose: por que cuidar da saúde intestinal de cães e gatos?

Assim como o nosso, o organismo dos pets abriga uma vasta população microbiana formada por bactérias, mas que também inclui fungos, vírus e protozoários. Essa comunidade é denominada microbiota. E a nutrição constitui uma ferramenta importante para evitar o desequilíbrio - chamado de disbiose - neste ambiente. 

Há algum tempo, pesquisadores empenham-se para desvendar qual o impacto do microbioma na saúde e bem-estar de pessoas e animais. Apesar de ainda haver muito a ser descoberto para responder a essa pergunta, os últimos anos nos provaram uma coisa: a questão é bem maior do que imaginávamos!

Afinal, o que é disbiose?

Quando há diminuição de microrganismos benéficos, aumento daqueles com potencial patogênico ou perda de diversidade na microbiota, podemos dizer que há um quadro de disbiose (Tiffany, 2019).

Esse desequilíbrio é indesejado, pois compromete as diversas funções da microbiota intestinal:

• Aproveitamento dos nutrientes: uma população bacteriana desbalanceada pode causar aumento do pH intestinal, interferindo na digestão e absorção de nutrientes, além de alterar os níveis de certas vitaminas do complexo B (McLeish, 2019);
• Estrutura intestinal: os efeitos deletérios do desequilíbrio microbiano estendem-se, sobretudo, à perda da integridade da barreira intestinal e alteração na composição e espessura do muco;
• Imunomodulação: um animal em disbiose pode ter a produção de citocinas pelas bactérias desregulada. Essas substâncias modulam a proliferação de monócitos e linfócitos, a atividade fagocítica dos macrófagos e a síntese de imunoglobulinas (Macfarlane e Cummings, 1999);
• Defesa contra patógenos: a disbiose aumenta a suscetibilidade à infecção por microrganismos causadores de doença, já que, além de interferir na integridade da barreira intestinal, há menor competição por espaço e recursos.

Dessa maneira, é possível notar a importância de uma microbiota equilibrada para a homeostase do intestino e do organismo dos animais como um todo. Ainda incipientes, pesquisas buscam estabelecer, principalmente, se a relação entre a disbiose e doenças crônicas gastrointestinais, dermatite atópica, entre outras condições crônicas de pets, são de causa ou efeito. Provavelmente, há uma sobreposição: esses quadros afetam a população microbiana que, por sua vez, está ligada à capacidade imune, prejudicando a resposta do animal a eles.

Como a nutrição contribui para o microbioma dos pets 

Presente no cotidiano dos pets, as decisões relacionadas à nutrição influenciam não só na consistência e odor das fezes, como também na saúde e longevidade dos nossos companheiros.  

Além de uma dieta balanceada, de acordo com os requerimentos dos cães e gatos, o uso de tecnologias nutricionais, como os aditivos à base de leveduras, contribui para um microbioma equilibrado. Nesse sentido, podemos destacar os seguintes aditivos:

• Probióticos:  microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro;
• Prebióticos: ingredientes não digestíveis que oferecem efeitos benéficos para os animais ao selecionarem estímulos para o crescimento e a atividade de bactérias específicas, conferindo benefícios à saúde do hospedeiro;

Estudos recentes demonstram grandes resultados advindos do uso de tecnologias nutricionais focadas na microbiota intestinal. Só para exemplificar algumas delas:

Fração ativa de mananos 

O uso de mananoligossacarídeos (MOS) na alimentação animal como prebiótico é bem difundido. Com base nos estudos de nutrigenômica, a Alltech desenvolveu uma solução mais purificada que MOS: o Actigen®. Como fração ativa de mananos (do inglês, MRF), essa tecnologia nutricional derivada da parede celular de leveduras contribui para o bem-estar dos pets ao promover a diversidade da microbiota, diminuindo a suscetibilidade à disbiose, e modular o sistema imune.

Em estudo de Kroll e colaboradores (2020), foi demonstrado que a inclusão de Actigen na dieta de cães idosos foi capaz de estimular a imunidade inata e adquirida. Aliás, alguns efeitos dessa benéfica imunomodulação foram: maior atividade fagocítica dos neutrófilos (p < 0,1), maior resposta cutânea à vacina (p = 0,002) e ao estímulo de fitohemoaglutinina (p = 0,002) no teste de hipersensibilidade cutânea tardia.

Nucleotídeos e ácido glutâmico

Componentes do extrato de levedura, os nucleotídeos contribuem para o crescimento e recuperação do epitélio intestinal ao participar da síntese de DNA. O ácido glutâmico, por exemplo, contribui para a palatabilidade dos alimentos e, por ser substrato energético para os enterócitos, tem importante papel na integridade da mucosa intestinal (Kaelle et al., 2022).

A pesquisa de Kaelle e colaboradores (2022) avaliou a inclusão de NuPro®, tecnologia Alltech de extrato de leveduras, na dieta de cães e encontrou que: além de redução no pH (p<0,05) e maior concentração de ácidos graxos de cadeia curta nas fezes, o estudo de palatabilidade demonstrou forte preferência às dietas com a tecnologia Alltech em comparação àquelas que não a tinham (p<0,001).

Selênio orgânico

Pereira e colaboradores (2020) exploraram o efeito da suplementação de Sel-Plex™, levedura enriquecida com selênio de alta biodisponibilidade da Alltech, em filhotes de cães. Os principais achados foram:

• aumento da diversidade de microbiota;
• aumento da produção de butirato e propionato, ácidos graxos de cadeia curta que atuam como substrato energético para as células do epitélio intestinal e contribuem para a manutenção da integridade da barreira intestinal e regulação do metabolismo energético (Yang, 2013);
• redução na concentração de Escherichia coli, um patógeno intestinal importante;
• e aumento na concentração de Lactobacillus, bactérias que promovem a eubiose ao acidificar o pH intestinal.

Em síntese, podemos estabelecer que há diversas soluções nutricionais para apoiar a longevidade dos pets – e novas descobertas acontecendo a cada dia. Estratégias para incluí-las na alimentação ao longo da vida, prezando por uma microbiota diversificada e os metabólitos benéficos para a imunidade e digestão, contribuem para o bem-estar dos animais e, por extensão, dos seus tutores. Afinal, quem não quer ver os companheiros bem?

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Referências:

Kaelle, G. C. B., Souza, C. M. M., Bastos, T. S., Vasconcellos, R. S., de Oliveira, S. G., & Félix, A. P. (2022).Diet digestibility and palatability and intestinal fermentative products in dogs fed yeast extract. Italian Journal of Animal Science, 21(1), 802-810.

Kroll, F. S. A., Putarov, T. C., Zaine, L., Venturini, K. S., Aoki, C. G., Santos, J. P. F., & Carciofi, A. C. (2020). Active fractions of mannoproteins derived from yeast cell wall stimulate innate and acquired immunity of adult and elderly dogs. Animal feed science and technology, 261, 114392.

Mcleish, Susan A.; Burt, Kay; Papasouliotis, Kostas (2019). Analytical quality assessment and method comparison of immunoassays for the measurement of serum cobalamin and folate in dogs and cats. Journal of veterinary diagnostic investigation, 31 (2), 164-174.

Macfarlane, G. T., & Cummings, J. H. (1999). Probiotics and prebiotics: can regulating the activities of intestinal bacteria benefit health?. Bmj, 318(7189), 999-1003.

Pereira, A. M., Pinna, C., Biagi, G., Stefanelli, C., Maia, M. R., Matos, E., & Cabrita, A. R. J. (2020). Supplemental selenium source on gut health: Insights on fecal microbiome and fermentation products of growing puppies. FEMS Microbiology Ecology, 96(11), 212.

Tiffany, C. R., & Bäumler, A. J. (2019). Dysbiosis: from fiction to function. American Journal of Physiology-Gastrointestinal and Liver Physiology, 317(5), G602-G608.

Yang, Q., & Wu, Z. (2023). Gut Probiotics and Health of Dogs and Cats: Benefits, Applications, and Underlying Mechanisms. Microorganisms, 11(10), 2452.