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Nematoides: conheça e saiba como manejar os patógenos

Nematoides: conheça e saiba como manejar os patógenos

Nematoides são vermes macro ou microscópios, que podem medir de milímetros até centímetros de comprimento. São parasitas de animais, insetos e plantas encontrados em abundância no solo, água doce e salgada.

Possuem corpo em formato cilíndrico, não segmentado, geralmente alongado e com as extremidades afiladas, alguns gêneros podem assumir um formato globoso.

São capazes de viver em qualquer ambiente que tenha disponibilidade de água, mas boa parte apresenta alta sensibilidade à falta dela e a temperaturas extremas.

Na agricultura, os nematoides são responsáveis por inúmeros danos, pois parasitam mamíferos, aves, peixes e plantas. Como parasitas de plantas, eles são considerados um dos principais patógenos que podem provocar perdas que ultrapassam 50% em culturas como soja e algodão. Geram prejuízos econômicos que chegam aos R$ 65 bilhões para o agronegócio brasileiro.

Nematoides fitoparasitas

São muitas as espécies de nematoides que parasitam as plantas cultivadas, por exemplo, na cultura da soja já foram descritas mais de 100 espécies de nematoides, entretanto, cerca de dez espécies destacam-se economicamente, tais como:

  • Pratylenchus brachyurus
  • Meloidogyne javanica
  • Meloidogyne incógnita
  • Helicotylenchus dihystera
  • Heterodera glycines
  • Rotylenchulus reniformes
  • Aphelenchoides besseyi
  • Scutellonema brachyurus

Conheça mais sobre alguns nematoides

Pratylenchus

O gênero Pratylenchus se destaca por apresentar uma ampla gama de hospedeiros, como soja, milho, cana-de açúcar, pastagens, trigo, melão, mamão, café, amendoim, entre outras culturas, além de possuir alta distribuição no Brasil, com predominância da espécie P. brachyurus.

Este nematoide causa lesões radiculares, ao penetrar e se movimentar, rompe as células, facilita a entrada de bactérias e fungos, que, associados ao nematoide, provocam necrose, podridão e depauperação do sistema radicular.

Foto: Mayra Soares. Reboleira de milho com plantas com sintoma de Pratylenchus spp.

Foto: Mayra Soares. Raiz de milho apresentando sintoma de Pratylenchus spp.

Meloidogyne

O Meloidogyne spp. é conhecido como o nematoide das galhas, uma vez que causa um engrossamento no sistema radicular, pois ao penetrar nas raízes, o parasita forma um sítio de alimentação, provocando hiperplasia e hipertrofia celular, para sua alimentação, o que ocasiona a obstrução dos vasos condutores, limitando a absorção de água e nutrientes, resultando em murcha, nanismo e redução na produção.

Este também é um nematoide que possui uma ampla gama de hospedeiros, incluindo várias espécies como, soja, milho, feijão, algodão, tomate, mamão, melão, café, videira, tomate, alface, pimenta, acerola, maracujá, entre outras plantas. No Brasil, o M. javanica M. incógnita, M. arenaria e M.hapla são as espécies com alta distribuição geográfica.

Foto: Mayra Soares: Raízes de soja com presença de galhas de Meloidogyne spp.

 

Foto: Mayra Soares. Meloidogyne sp. Colorido com fucsina ácida, no sítio de alimentação. 

Helicotylenchus

A população de Helicotylenchus dihystera aumenta constantemente em diferentes regiões do Brasil, por isso, é classificado por muitos nematologistas como um parasita emergente de importância econômica para culturas como soja, milho, feijão, banana, batata, tomate, café, citros, cevada, trigo, ervilha, entre outras, sendo visto como um organismo polífago. Seus sintomas se assemelham ao Pratylenchus.

 Foto: Mayra Soares. Reboleira de soja atacada por Helicotylenchus dihystera.

Foto (grupo Staphyt). Sintoma de Helicotylenchus dihystera em raiz de soja.

Grande desafio para o agronegócio

Os nematoides possuem características desafiadoras para o agronegócio, por possuírem uma ampla gama de hospedeiros de plantas daninhas a plantas cultivadas, dificultando assim seu manejo.

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Fonte. Livro manejo de nematoides em grandes culturas, 2023.

Outra característica que dificulta o manejo de nematoides é seu ciclo de vida, que varia entre 25 e 30 dias, em condição de clima tropical.

Na prática, a cada 25 dias e em temperatura média de 30 graus Celsius, um Meloidogyne sp. é capaz de colocar entre 300 e 500 ovos, os quais podem eclodir e infectar a planta e, assim, iniciar um novo ciclo. No caso do Pratylenchus, nas mesmas condições, tem a capacidade de colocar 150 ovos, fazendo com que sua população aumente em um período curto, o que se torna algo desafiador.

Uma curiosidade é que a maioria dos nematoides, considerados problemáticos para agricultura nacional, são nativos, ou seja, adaptados às nossas condições climáticas.

Dicas para o manejo de nematoides

Atualmente o produtor tem acesso a muitas ferramentas para o manejo de nematoides, porém, o manejo integrado é fundamental.

Escolha da cultivar

O processo inicia na escolha da cultivar ou híbrido; é necessário optar por variedades de plantas que apresentem maior resistência, tolerância e/ou baixo fator de multiplicação de nematoides.

Rotação de cultura

A rotação de cultura e o uso de plantas de cobertura são fundamentais para reduzir a população dos nematoides, bem como melhorar o sistema solo.

Um exemplo fundamental é o cultivo das crotalárias - espécies como: C. spectabilis e C. breviflora são excelentes opções para a rotação de culturas, pois  não multiplicam os principais nematoides e são consideradas “plantas iscas” para atraírem os nematoides e produzirem substâncias tóxicas em suas raízes.

Produtos químicos

Dentre os produtos químicos, os princípios ativos com maior ação em nematoides estão: organofosforado, carbamato, abamectina, fluopiram e cyclobutrifluram, os quais possuem registro específico para cultura e alvo. Pesquisas indicam que a atuação dos produtos químicos ocorre dentro de um período de 30 dias.

Produtos biológicos

Uma ferramenta com bastante uso para o manejo de nematoides são os biológicos, devido aos benefícios e longevidade dos seus efeitos. Os microrganismos possuem funções de proteção do sistema radicular, por exemplo, as bactérias do gênero Bacillus spp. são capazes de produzir um biofilme sob as raízes, que as protegem da penetração dos nematoides. Elas não só produzem compostos tóxicos como enzimas e substâncias antimicrobianas, mas também promovem a modificação dos exsudatos radiculares, causando a desorientação dos nematoides, competição por espaço e nutrição, ativação da resistência sistêmica induzida da planta, além de benefícios como a síntese de fito-hormônios promotores de crescimento, melhora na disponibilidade de nutrientes, que, somados, reduzem os nematoides e proporcionam incremento de produtividade.

Os microrganismos (bactérias e fungos) registrados para o manejo de nematoides podem ser utilizados em todas as culturas. O registro é específico conforme o alvo, ou seja, para cada espécie de nematoide.

Em suma, para desfrutar dos benefícios dos biológicos, é necessário tornar o ambiente favorável aos microrganismos, mantendo os níveis adequados de matéria orgânica, introduzindo compostos orgânicos e inoculando microrganismos efetivos.

Você sabia?

É crescente o uso de biológicos para o manejo de nematoides.  

Os microrganismos se destacam dentre as práticas de manejo de nematoides pelas vantagens, principalmente, a ação sob os nematoides presentes no parasitismo de ovos, juvenis e fêmeas. Mas também aumentam a capacidade das plantas em tolerar os diversos desafios bióticos e abióticos que ocorrem durante seu ciclo, até porque muitos são considerados promotores de crescimento, estimulando a produção de hormônios como auxina e giberelina, promovem incremento radicular, melhoram a disponibilidade de nutrientes pela ciclagem e mineralização, mantendo assim o potencial produtivo frente às adversidades.

Referências

DIAS, W. P.; GARCIA, A.; SILVA, J. F. V.; CARNEIRO, G. E. de S. Nematoides em soja: identificação e controle. Embrapa, 2010.

DIAS-ARIEIRA, C. R.; ARAUJO, F.G.; MACHADO, A. C. Z. Manejo de nematoides em grandes culturas. NPCT, 2023.

PEREIRA, B. V. R. Eficiência de nematicidas químicos, bionematicidas e extratos vegetais no controle de Pratylenchus brachyurus em soja. Instituto Federal Goiano, 2020.  

PINHEIRO, J. B;. MELO, R. A. C.; RAGASSI, C. F. Manejo de nematoides em hortaliças sob plantio direto. Embrapa, 2019. 

REDAÇÃO CANAL RURAL. Soja: pesquisa identifica prejuízos de R$ 65 bilhões por nematoides, 2022.  

ROSSETTO, R.; SANTIAGO, A. D. Nematoides. Embrapa Cana, 2022

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