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A revolução das enzimas

ave de corte comendo ração

Consideradas até pouco tempo como apenas uma aliada na redução de custos de alimentação na avicultura de corte - que de acordo com a Embrapa representa cerca de 69% dos custos de produção -, as enzimas ganharam espaço na formulação de dietas em produções em todo o Brasil, especialmente devido a sua capacidade de melhorar o aproveitamento de diversos nutrientes importantes, reduzindo a quantidade de ração a ser oferecida para o animal.

As enzimas adicionadas às dietas promovem a quebra de porções do alimento, inicialmente indigestíveis (Mckinney, et al., 2015). Dependendo do tipo de enzima adicionada às rações, é possível ainda observar a redução da viscosidade da digesta no trato gastrintestinal, degradação de proteínas e diminuição dos efeitos de fatores anti nutricionais (Nuñez et al., 2013).

Frente ao uso das enzimas, as pesquisas não param: de 1969, quando elas começaram a ser utilizadas, até os dias atuais é possível encontrar a utilização de tecnologias como carboidrases, proteases e lipases, que têm um raio de ação que vai muito além da fitase, utilizada até então como um produto único para melhorar a absorção de fósforo no organismo da ave. Outro avanço que temos presenciado é o uso de várias enzimas combinadas, que atuam em várias porções indigestíveis diferentes dos alimentos, ampliando o raio de ação e consequentemente, aliviando o bolso do produtor.

Outro fato interessante é o desenvolvimento de enzimas exógenas com diferentes especificações químicas, que têm sido propostas como alternativas tecnológicas para reduzir o impacto negativo das frações indigestíveis dos alimentos para os animais (García et al., 2000; Oliveira et al., 2006). De acordo com Lázaro et al., 2004 e Hooge et al., 2010 além dos benefícios de outros complexos enzimáticos, nesta já é observada também a melhora geral na saúde intestinal de aves alimentadas com rações contendo complexos múltiplos de enzimas exógenas.

Meng & Slominski (2005) afirmam que o uso combinado de complexos enzimáticos de caráter fibrolítico e proteolítico em dietas a base de milho e farelo de soja podem gerar incremento na digestibilidade ileal das proteínas, como resultado do aumento da liberação de proteínas estruturais, tais como as glicoproteínas.

Com relação às metodologias de obtenção das enzimas exógenas, destaca-se o processo de fermentação em estado sólido (SSF – Solid State Fermentation), que consiste na produção de várias enzimas em conjunto e ao mesmo tempo, os chamados complexos enzimáticos, isso garante maior sinergia e estabilidade entre as enzimas geradas, característica importantíssima para o bom funcionamento das mesmas nos animais.

Ao analisar 28 pesquisas com complexos enzimáticos produzidos por meio de fermentação em estado sólido, Hooge et al., 2010, concluíram que a adição desses nas rações, melhora o ganho de peso médio dos animais em 3,73% e a conversão alimentar em 2,64%. As dietas das aves suplementadas com os complexos enzimáticos produzidos na metodologia SSF podem ter redução de 75 kcal/kg de energia metabolizável, 1% de aminoácidos essenciais e 0,1% nos níveis de cálcio e fósforo disponível, proporcionando considerável economia nas mesmas.

Tecnicamente como são inúmeros os compostos indigestíveis nas rações, o uso desses complexos enzimáticos, justifica-se frente à utilização de enzimas isoladas. Apesar das dietas brasileiras para aves serem majoritariamente compostas por milho e soja, alimentos já bem aproveitados nutricionalmente por esses animais, sempre há porções que podem ser melhor utilizadas (Slominski, 2011), a fim de permitir que os mesmos possam manifestar seu potencial produtivo. 

São avanços como este que podem proporcionar um melhor desempenho em algumas fases de criação, como é o caso de animais jovens, que por terem os tratos gastrointestinais em desenvolvimento são incapazes de digerir alguns compostos, colaborando na redução do custo das dietas e o incremento da utilização de alimentos alternativos nas rações.

Conforme podemos observar, o uso de enzimas é uma prática consolidada no mercado e que cada vez mais, por meio de pesquisas, é possível comprovar sua eficiência e aumentar o grau de relevância que os complexos enzimáticos precisam ter na formulação de dietas, para que desta maneira as aves sejam mais saudáveis, mantendo a rentabilidade da produção. Ou seja, é inegável que para que a avicultura brasileira continue a avançar, é de extrema necessidade que os produtores realizem um uso cada vez mais consciente e eficaz das enzimas adicionadas à alimentação.


Rerefências

  1. McKinney, K., Combs, J., Becker, P., Humphries, A., Filer, K., Vriesekoop, F. 2015. Optimization of phytase production from Escherichia coli by altering Solid-State fermentation conditions. Fermentation. 1: 13-23.
  2. Nuñez, M., Ojeda, A., Araque, H., Rossini, M., Machado, I., Basilio, V. 2013. Adición de los complejos enzimáticos a raciones com harina de soya (Glycine max L.) com diferente solubilidade de proteína y respuesta productiva em polos de engorde. Tropical e Subtropical Agroecosystems. 16: 297-307.
  3. García, E.R.D.M, Murakami, A.E., Branco, A.F., Furlan, A.C., Moreira, I. 2000. Efeito da suplementação enzimática em rações com farelo de soja e soja integral extrusada sobre a digestibilidade de nutrientes, o fluxo de nutrientes na digesta ileal e o desempenho de frangos. Revista Brasileira de Zootecnia. 29: 1414-142.
  4. Hooge, D.M., Pierce, J.L., Mcbride, K.W., Rigolin, P.J. 2010. Meta-analysis of broiler chicken trials using diets with or without Allzyme® SSF enzyme complex. International Journal of Poultry Science. 9: 819-823.
  5. Lázaro, R., Latorre M.A., Medel, P., Gracia, M., Mateos, G.G. 2004. Feeding regimen and enzyme supplementation to rye-based diets for broilers. Poultry Science. 83: 152-160.
  6. Meng, X., Slominski, B.A. 2005. Nutritive values of corn, soybean meal, canola meal, and peas for broiler chickens as affected by a multicarbohydrase preparation of cell wall degrading enzymes. Poultry Science. 84: 1242-1251.
  7. Oliveira, C., Albino, L.F.T., Rostagno, H.S., Gomes, P.C., Dionizio, M.A., Oliveira, D.C. 2006. Adição de complexo multienzimático em dietas à base de soja extrusada e desempenho de pintos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia. 35: 457-461.
  8. Slominski, B.A. 2011. Recent advances in research on enzymes for poultry diets. Poultry Science. 90: 2013-2023.

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